Há milhares de anos, luzes brilhantes são sinônimo de grandes espirros – e estudos curiosos
por Karen Schrock
Você já saiu de uma matinê no cinema e, sob a luz repentina do Sol, começou a espirrar sem parar? Até um terço da população responderá a essa pergunta com um enfático “Sim!” (enquanto o resto do pessoal coça a cabeça com uma expressão confusa no rosto). O espirro como resultado da exposição à luz brilhante – conhecido como espirro de reflexo fótico – é uma idiossincrasia genética ainda não explicada pela ciência, apesar de já ter intrigado algumas das mentes mais brilhantes da história.
Aristóteles se perguntava por que certas pessoas espirravam ao olhar para o Sol em Problemas: “Por que o calor do sol provoca o espirro?”. O filósofo acabou apontando o calor do Sol sobre o nariz como o responsável.
Dois mil anos mais tarde, no começo do século 17, o filósofo inglês Francis Bacon colocou essa idéia à prova se expondo ao Sol com os olhos fechados – o calor ainda estava lá, mas ele não espirrou (uma demonstração compacta do método científico, que ainda decolava na época). A melhor explicação de Bacon foi que a luz do Sol fazia os olhos se encherem d’água, e então essa umidade infiltrava e irritava o nariz.
Líquidos à parte, a hipótese da umidade de Bacon parecia bem razoável até que nossa compreensão moderna da fisiologia deixou bem claro que o espirro acontece rápido demais depois da exposição ao Sol para ser resultado de um duto lacrimal relativamente lento. É aí que entra a neurologia: a maioria dos especialistas concorda que “fios cruzados” no cérebro provavelmente são responsáveis pelo espirro de reflexo fótico.
Um espirro é geralmente desencadeado pela irritação do nariz, identificada pelo nervo trigeminal, um nervo cranial responsável pelas sensações e controle motor da face. Ele está bem próximo do nervo óptico que, por sua vez, “percebe”, por exemplo, quando um feixe repentino de luz entra na retina. De acordo com a teoria, assim que o nervo óptico dá o sinal para o cérebro constringir as pupilas, parte do sinal elétrico é identificado pelo nervo trigeminal e confundido pelo cérebro como aviso de nariz irritado. E assim acontece o espirro.
Mas como esse fenômeno inofensivo (e potencialmente embaraçoso) não parece estar ligado a qualquer doença, o estudo científico do assunto é escasso. Pesquisas têm feito pouco mais que documentar sua existência e tentar medir sua prevalência. Não existem estudos rigorosos, mas pesquisas informais identificam 10 a 35% da população como “espirradores fóticos”. Um trabalho da década de 60 demonstrou que a característica é autossomal dominante – ou seja, o gene não está no cromossomo X ou Y, e apenas uma cópia dele tem que estar presente para que a característica seja expressada. Então, se um dos pais de uma criança espirra ao olhar para uma luz brilhante, metade seus filhos também vai precisar de um lencinho.
O culpado genético permanece não-identificado, mas os cientistas estão começando a se interessar em revelá-lo. “Eu acho que vale a pena”, diz Louis Ptácek, neurologista da University of California em São Francisco e pesquisador do Howard Hughes Medical Institute. Ptácek estuda transtornos episódicos como a epilepsia e enxaquecas, e acredita que pesquisar o espirro de reflexo fótico poderia esclarecer outros aspectos da neurologia.
Convulsões epilépticas às vezes são desencadeadas por flashes de luz e a enxaqueca é frequentemente acompanhada por fotofobia. “Se conseguíssemos encontrar um gene que provoca o espirro fótico, poderíamos estudá-lo e aprender algo sobre o caminho visual e outros fenômenos de reflexo”, explica Ptácek.
Mas até que o neurologista e seus colegas encontrem as famílias adequadas para seu estudo, o espirro de reflexo fótico permanecerá uma característica genética divertida (para os outros), como conseguir dobrar a língua. Apesar de um estudo de 1993 publicado na Military Medicine ter levantado questões sobre o espirro induzido pela luz colocar em perigo pilotos de caça – para os quais um piscar de olhos pode ser letal em certas situações –, esse temor foi deixado de lado quando uma pequena pesquisa apontou que usar óculos escuros eliminaria esse efeito.
Esse não foi o único estudo, digamos, excêntrico sobre esse tipo de espirro. Por exemplo, uma pesquisa de 1978 entrou na moda dos acrônimos e quis batizar o espirro de reflexo fótico como Síndrome de explosão hélio-oftálmica autossomal-dominante – ou, na sigla em inglês, ACHOO – que quer dizer... ATCHIM!